Os avanços recentes em inteligência artificial (IA) generativa têm revolucionado a forma como interagimos com a tecnologia. Ferramentas como chatbots e assistentes virtuais estão se tornando cada vez mais sofisticadas, permitindo uma comunicação mais natural e intuitiva entre humanos e máquinas. O fenômeno do ChatGPT, que conquistou um milhão de usuários em apenas cinco dias, exemplifica essa transformação. Com a previsão de que a IA pode adicionar entre US$ 2,6 e 4,4 trilhões ao PIB mundial, é compreensível que o tema ganhe destaque nas discussões estratégicas. No Brasil, o lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) reflete essa urgência, especialmente após o apelo do presidente Lula da Silva para que cientistas desenvolvam uma “IA brasileira”. No entanto, a proposta de criar um Large Language Model (LLM) nacional, com um investimento de R$ 1,1 bilhão, levanta questões sobre sua real necessidade e eficácia. Ao invés de buscar uma versão limitada de tecnologias já existentes, o Brasil deveria almejar uma participação mais inovadora na cadeia de valor global da IA.
O que é um LLM e sua relevância no cenário atual
Um Large Language Model (LLM) é um tipo de modelo de inteligência artificial projetado para entender e gerar linguagem natural. Esses modelos são treinados em grandes volumes de dados textuais, permitindo que eles realizem tarefas como tradução, resumo e até mesmo a geração de texto criativo. O impacto desses modelos na sociedade é inegável, pois eles têm o potencial de transformar setores inteiros, desde a educação até a saúde. No entanto, a proposta de desenvolver um LLM nacional no Brasil suscita debates sobre a real necessidade de tal iniciativa. A primeira justificativa apresentada para a criação de um LLM nacional é o “fomento à curadoria de conjuntos de dados nacionais”. Essa abordagem visa melhorar a qualidade dos dados disponíveis, o que pode ser benéfico para pesquisadores e para a administração pública. Por exemplo, dados organizados do Sistema Único de Saúde (SUS) poderiam levar a soluções mais eficazes e personalizadas para os cidadãos. Contudo, a segunda parte da proposta, que envolve o “apoio ao desenvolvimento de modelos fundacionais especializados em português”, levanta preocupações. A ideia de que um modelo treinado especificamente em português poderia capturar melhor as nuances culturais do Brasil é válida, mas a demanda por um desempenho superior em português não é tão evidente. Modelos de IA já demonstram um bom desempenho em várias línguas, incluindo o português, o que torna a necessidade de um LLM nacional questionável.
A questão da soberania e a dependência tecnológica
Um dos argumentos centrais para a criação de um LLM nacional é a promoção da soberania tecnológica. No entanto, essa perspectiva pode ser considerada frágil. A natureza descentralizada e de código aberto de muitos projetos de IA diminui a necessidade de um modelo puramente nacional. Além disso, a verdadeira dependência do Brasil em relação à tecnologia não reside apenas no software, mas também no hardware especializado, como as Graphics Processing Units (GPUs), que são fabricadas por um número limitado de empresas nos Estados Unidos e em Taiwan. Portanto, desenvolver um LLM brasileiro não resolveria a questão da dependência de hardware estrangeiro. É importante ressaltar que a cultura brasileira já está amplamente representada nos dados disponíveis na internet, que são utilizados para treinar modelos existentes. Assim, a proposta de um LLM nacional, embora bem-intencionada, pode ser vista como uma falta de ambição em relação ao potencial do Brasil no cenário global de IA. Ao invés de se contentar com uma versão limitada de tecnologias já existentes, o Brasil deve buscar uma participação mais significativa e inovadora na cadeia de valor global da IA.
Oportunidades para o Brasil no mercado global de IA
As empresas brasileiras têm um enorme potencial para se tornarem competitivas no mercado global de IA, especialmente em setores onde já possuem expertise significativa, como segurança, adtech e fintech. Ao invés de investir em um LLM nacional, o Brasil deveria focar em áreas que atendam a demandas reais de consumidores e empresas em todo o mundo. A criação de um ambiente favorável para a inovação em IA pode incluir a atração de capital estrangeiro, incentivando empresas globais a operarem no Brasil e contratarem mão de obra local. Além disso, facilitar a entrada de talentos internacionais, como nômades digitais, pode enriquecer o ecossistema de IA no país. Promover colaborações internacionais entre universidades, centros de pesquisa e empresas também é uma estratégia eficaz para impulsionar a inovação. Melhorar o ambiente regulatório é outro passo crucial para garantir que o Brasil se torne um hub de inovação em IA, gerando empregos de alta qualidade e aumentando a competitividade econômica.
Considerações finais sobre o PBIA e o futuro da IA no Brasil
Embora algumas iniciativas do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) sejam louváveis, é necessário adotar uma abordagem mais ambiciosa e global. O investimento de R$ 1,1 bilhão na criação de um LLM nacional pode ser visto como um desperdício de recursos, considerando que o verdadeiro potencial do Brasil na IA reside em sua capacidade de inovar e se integrar ao mercado global. Ao invés de se concentrar em um projeto de eficácia questionável, o Brasil deve se posicionar como um líder em inovação, aproveitando suas competências e talentos locais. A IA tem o potencial de transformar a economia brasileira, mas isso só será possível se o país adotar uma visão mais ampla e ousada, buscando não apenas a autonomia tecnológica, mas também a colaboração e a integração com o cenário global. Assim, o Brasil pode não apenas evitar desperdícios, mas também se tornar um protagonista na revolução da inteligência artificial.
Resumo
O debate sobre a necessidade de um LLM nacional no Brasil levanta questões sobre a real demanda por tal investimento. Embora a proposta de um modelo treinado em português tenha suas justificativas, a dependência de hardware estrangeiro e a já existente representação da cultura brasileira nos dados disponíveis na internet tornam essa iniciativa questionável. O Brasil possui um enorme potencial para se destacar no mercado global de IA, especialmente em setores onde já possui expertise. Ao invés de se concentrar em um projeto limitado, o país deve buscar uma abordagem mais ambiciosa e global, promovendo a inovação e a colaboração internacional.
FAQ Moisés Kalebbe
O que é um LLM?
Um Large Language Model (LLM) é um modelo de inteligência artificial projetado para entender e gerar linguagem natural, sendo utilizado em diversas aplicações como chatbots e assistentes virtuais.
Por que o Brasil quer desenvolver um LLM nacional?
A proposta de um LLM nacional visa promover a soberania tecnológica e melhorar a qualidade dos dados disponíveis, mas sua real necessidade é questionada devido à boa performance de modelos existentes em português.
Quais são os principais desafios para a IA no Brasil?
Os principais desafios incluem a dependência de hardware estrangeiro, a necessidade de um ambiente regulatório favorável e a atração de talentos e investimentos internacionais.
Como o Brasil pode se destacar no mercado global de IA?
O Brasil pode se destacar ao focar em setores onde já possui expertise, como segurança e fintech, além de promover colaborações internacionais e facilitar a entrada de talentos.
Qual é a importância do PBIA?
O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) é importante para direcionar investimentos e estratégias em IA, mas deve ser acompanhado de uma abordagem mais ambiciosa e global para realmente impulsionar a inovação no país.
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